Calam-se as palavras porque naquele momento ela disse tudo. Tudo o que não podias ser dito. Ele tira os braço que até aí lhe afagava a barriga e fica muito direito no sofá. A legenda diz “ele ficou chateado”. Depois de longos minutos a repetir silêncios ele levanta-se e sai da sala. A legenda diz “ele vai-se deitar”. Eles vão sempre dormir juntos, mesmo que um não esteja cansada o suficiente, por isso a legenda que ela lê também diz “fiz merda”.
Demora menos de meio minuto a segui-lo, lavar os dentes e dirigir-se ao quarto. Mas ao chegar ele já está como se dormisse, tudo apagado. Excepto pelo enorme balão de pensamento por cima da cabeça dele que diz “agora não”.
Ela deita-se e abraça-se a ele como quem diz “não quero saber, és meu”. E ele mexe-se muito, o balão de pensamento não se apaga “agora não”. Ela chora, em cada lágrima um “desculpa” e afasta-se. A noite passa. O balão de pensamento desvanece-se enquanto ele adormece e ela de olhos muito abertos vê tudo a acontecer.
Num instante o telemóvel vibra, dizendo “acorda”. É para ele que fala. Levanta-se num pulo e na legenda lê-se que há pressa. Ela continua com os olhos muito abertos. Ao fim de um tempo, ele vem vestido e cheiroso ao quarto escuro onde ela tem s olhos muito abertos e beija-lhe o vabelo. Na legenda lemos “ainda te amo”. E ela adormece finalmente, por um bocadinho. Afinal continua a ser um filme de amor.
E não foi de forma inocente que o mencionei num post em que falava sobre a solução dos tapa-mamilos. É que o vestido é tão lindo quanto decotado. No peito, nas costas, racha à frente. Juro que no look geral não é desavergonhado - como aliás podem ver na modelo. Mas como em tudo na vida: é preciso relativizar. Para a boda de casamento: ok! Para levar para a igreja: exige casaco ou lencinho para recatar.
E foi o que fiz! Mas a meio da cerimónia estava a sofrer com o calor e o Moço obrigou-me a tirar o casaco que levava sobre os ombros. Sem stress, ia ficar sossegadinha e o padre não me via as costas de pêga.
Eis que chega o momento da Oração dos Fiéis e...não há leitor. Nem houve meio de alguém se voluntariar para ler algo que nem tinha treinado. O Moço empurrou-me, a noiva fez-me sinal com os olhinhos desesperados e eu avancei. Assim, como estava, toda descascada.
Senti a Nossa Senhora a julgar-me lá do seu canto, mas prossegui com a leitura e voltei ao meu lugar. O Moço (que é suspeito, até porque me tinha obrigado a tirar o casaco) disse que estive muito bem e no fim da missa todos me deram os parabéns pela leitura e me chamaram de heroína por salvar a situação. Só o meu melhor amigo lá presente teve o descaramento de ser verdadeiro: "pior escolha de sempre para ir ler na missa" diz ele entre risos.
Eu mereço... De qualquer forma o Inferno já estava certo.