Terá sido a frase que o meu pai mais vezes me repetiu face às minhas investidas de chica-esperta. Falo sempre muito assertiva, como quem conhece os cantos ao mundo - isto para aí desde que aprendi a dizer frases inteiras e o Sr.Zé do café da rotunda me chamou grafonola. É difícil que quem me ouve não ache que eu sei do que estou a falar só pela segurança com que o digo, mas o meu pai nunca se deixou enganar: tu não sabes o que é a vida.
Ocorreu-me no outro dia, que finalmente sei o que ele queria dizer - e, caramba levou-me 28 anos e um período reforçado de trágico-comédias para perceber isto. Levou-me 28 anos para chegar a este estado de alerta geral: em todos os minutos carrego todas as responsabilidades do mundo. E o grande segredo de se ser adulto é ter este estado de consciência que pesa mais do que todos os quilos que tenho no corpo, e ao mesmo tempo seguir com a vida. Ser feliz apesar da mochila das preocupações nos estar colada ao corpo, porque a tiracolo levamos a bolsa de ânimo. Não podemos largar nenhuma.
Não há pausas nem intervalos para encontrar a alegria por entre a confusão. Não há uma hora para sorrir e outra para chorar: todas as horas são de tudo ao mesmo tempo. Otimismo e pessimismo são conceitos que se confundem e deixam de fazer sentido: é a realidade que nos alimenta e nos faz crescer.
Normalmente os comentários que destaco nesta rubrica fazem-me rir (de espirituosos ou espatafúrdios que são). Mas este deixou-me um bocadinho preocupada confesso...
Pois no post original a Pipoca Mais Doce fala de como levou o seu Mateus a ver o Pai Natal no El Corte Inglès. Que o miúdo até não achou muita graça ao velho barbudo - coisa que eu acho bem porque me faz espécie ensinar as crianças a confiar em velhos barrigudos que lhe oferecem coisas em troco de colo. E que no fim o Pai Natal até dá um livrinho e tudo.
E depois há este comentário:
Vamos por partes. Uma mulher de 28 anos que adora o Natal, no limite...
a) decora a casa de forma efusiva,
b) põe playslists com músicas de Natal em loop no Spotify ou
c) gasta as suas economias a comprar mil presentes para os seus.
Não deseja sentar-se ao colo de um velho que entende que está apenas DISFARÇADO numa casinha de Natal pensada para crianças num centro comercial. Isso já roça à esfera do fetiche, para ser levado a cabo longe de crianças na fila da casinha encantada.
Também me preocupa muito este Anónimo. Que se é uma amiga a querer fazer-lhe uma surpresa engraçada devia optar por oferecer-lhe uma caneca com renas ou uma t-shirt com um dizer engraçado qualquer sobre o Natal - seria aceitável. E se é um amigo a querer marcar pontos...caramba, vista-se ele de Pai Natal e faça-lhe uma lap dance que faça derreter o Pólo Norte. Agora não tornem a quadra natalícia num cenário aterrador...dá para ser?