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Maria das Palavras

A blogger menos in do pedaço, a destruir mitos urbanos desde 1986. Prazer.

20
Jan15

5 Tipos de Pessoas que Reagem ao Frio

Maria das Palavras

Pássaro à chuva


1. O Dramático

"OH MEU DEUS, que desgraça. Não aguento nem mais um dia com este frioooo. Vou-me fechar no meu casulo, rebolar e morrer. Ou pelo menos entrar em coma enquanto não voltar a primavera.".
O Dramático vê o fim do mundo em cada gota de chuva, rajada de vento ou grau de temperatura abaixo dos vinte.Durante todo o Inverno o seu sonho é poder hibernar. Faz-se acompanhar de citações melancólicas e uma playlist musical depressiva - sobejamente publicadas no Facebook pessoal.

2. O Saudosista
"Ah, no meu tempo isto não era assim." A frase repete-se, mesmo que seja um jovem nascido em 1996 a falar. Lembram-se dos Invernos menos frios e dos Verões menos quentes. No fundo, lembram-se muito daqueles anos (que nunca existiram senão nos seus melhores sonhos) em que a temperatura foi amena de Janeiro a Dezembro. Anos em que não se usaram casacos porque não houve necessidade disso (os mesmos em que nunca chegaram a deitar uma gota de suor com calor. noutras estações). No fundo, anos imaginários.

3. O Surpreendido
O surpreendido ficava invariavelmente chocado com o frio e a chuva no Inverno (tal como fica de boca à banda com as altas temperaturas no Verão). A cada dia de temperatura abaixo dos 10 graus centígrados faz um novo post "inacreditável este frio". A cada chuvada tira uma foto que publica com a descrição "O que é isto, Meu deus?!" ou mais redutor "WTF". Todos os dias acorda e se surpreende porque, continuando a ser Inverno, não há temperaturas amenas e céu a brilhar. Faz lembrar o Tom-10-seconds daquele filme "A minha namorada tem amnésia" que a cada dez segundos se volta a apresentar às mesmas pessoas.
Às vezes sai de casa no meio de um temporal em camisola decotada ou calções, sem casaco ou guarda-chuva. Só porque não estava mesmo à espera que estivesse mau tempo.

4. O Profeta da Desgraça
Se faz um dia de sol mais quente no Inverno e as pessoas parecem felizes com isso, os "profetas da desgraça" apressam-se a mostrar as previsões de meteorologia que juram que no fim-de-semana seguinte já vai haver temporais (quem sabe um tsunami?). E que durante o mês todo a partir daí o frio não dará descanso. As temperaturas vão baixar tanto que vai ser (outra vez) o mês mais frio de sempre - e estamos a contar com a altura da extinção jurássica.

5. O Acomodado
De facto tem coisas mais importantes em que pensar. Se chove usa chapéu (ou não, se for homem, porque macho que é macho apanha chuva no escalpe e não se importa), se estiver frio reforça a roupa com casacos, luvas e lãs variadas a envolver o pescoço. Nem o afetam muito as temperaturas. "Ah, está assim tanto frio? Nem tinha reparado" respondem eles quando vocês, com uma estalactite a pender do nariz, pedem para ligar o ar condicionado. São os grandes responsáveis pelo enrelegamento de grupos de mulheres inteiras nas empresas.

Eu, a espaços, consigo ser todos. E vocês?

 

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20
Jan15

Atirei o pau ao gato

Maria das Palavras

A Carolina veio a cantarolar da escola. Que canção é essa, filha? perguntei-lhe eu. E ela repetiu:


"Não atires o pau ao gato-to-to, porque isso-so não se faz-faz-faz...minha mãe-mãe-mãe, ensinou-me-me, a gostar, a gostar dos animais! MIAAAUUU!!"

Já não se atira o pau ao gato. 

Pedi-lhe que se chegasse ao pé de mim e fiz-lhe uma trança no cabelo. Perguntei-lhe se tinha fome. Nunca tem fome. Desde que o irmão perdeu o apetite ela também. Tão pequena. Sentei-a a ver televisão com uma taça de cereais.

Preparei o tabuleiro com o lanche para levar ao Manel e bati ao de leve na porta do quarto. Às vezes prefiro que ele não oiça, para não me mandar embora antes de eu ter oportunidade de entrar. Está com o livro aberto na mesma página. Sempre na mesma página. Quer que eu acredite que lê. 
Deixo-lhe o tabuleiro ao lado. Nenhuma palavra. Passo o polegar ao de leve na sua bochecha encarnada. Reparo que o cotovelo está menos inchado mas não lhe toco mais. Pego num livro, sento-me aos pés da cama e espero que ele coma qualquer coisa. Sei que ele o fará para não me preocupar ainda mais. Mas só se eu estiver ali.

Ele deixa de fingir que lê e eu começo a fingir que leio. Mas pelo canto do olho estou antes a vê-lo pegar na comida aos poucos e mastigar. Corta a sandes nas mãos e depois leva à boca. Já não geme ao trincar. Eu já não choro ao ouvi-lo gemer.

 

Tenho de me lembrar de virar a página. Só de vez em quando.

Quando recebi aquela chamada para o ir buscar - ao hospital não à escola - num segundo tudo fez sentido. A recusa dele em voltar para as aulas a cada Setembro. Neste último em especial. O grupo de rapazes (e não, não eram só rapazes) que o fazia desviar-se para o outro lado do passeio quando o deixava de carro do lado certo da escola. Não era "coisa de criança", como dizia a mim mesma. 


Vira a página.

Serei má mãe por não reparado. Já pensei nisso muitas vezes. Não me vou enganar, é tudo o que penso.
Também é o que os outros pensam. Também é o que o Carlos pensa. Eu é que o ia levar à escola. Eu é que o ajudava a preparar-se de manhã e lhe ouvia os protestos. Eu é que devia saber.

Mas como poderia eu saber, que num mundo em que já nem se atira o pau ao gato, as crianças seria violentas a este ponto umas com as outras? Não foi por isso que mudaram a canção?

Já nem se atira o pau ao gato.


Vira a página.

 

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