Lembrei-me agora que eu devorava um menu da Pans, quando ele aponta para o saquinho dos Camembert Bites (que, para quem não sabe, são a oitava maravilha do mundo das papilas gustativas) e diz:
- Ui, já acabaste com isso?
E eu, que estava certa que tinha guardado um dos quatro preciosos Bites para o final da refeição, tive um ligeiro enfarte do miocárdio até verificar que ele me estava a enganar, apresentando o seu ar de gozo, enquanto eu resgatava o sobrevivente do seu saquinho de papel.
Isto para verem como ele também consegue ser a pior pessoa do mundo, quando quer, não é só bondade que p'rali vai no coração.
Jantamos e conversamos. Eu despenteada, com o cabelo cheio de trejeitos da humidade, e de ar cansado, e ele, por mais que se esfalfe a trabalhar em turnos, e nas máquinas do ginásio, sempre com aquele ar fresco e fofo, giro-sem-esforço (se calhar eu também devia experimentar ser in e fazer a dieta dele - isso e uma operação plástica).
Como estou sempre a inventar, eis a questão que lanço para cima da mesa: se pudessemos escolher uma maneira para morrer, num futuro próximo, excluindo a hipótese "enquanto dormimos", o que escolheríamos. E enquanto eu estou a formar na cabeça a possibilidade de uma morte através de um veneno de atuação rápida, que nem chegue a fazer uma pessoa bolsar-se e perder a pose, ele diz:
- Escolhia morrer atropelado, a atirar-me para a passadeira para salvar uma criança de um carro a alta velocidade. Eu morro, a criança salva-se.