Faz hoje dois anos que nos mudámos para a casa que é nossa. Logo hoje que estamos longe um do outro e não podemos brindar com champanhe - nem o faríamos, era preciso que ambos gostássemos de champanhe. A casa que ao início só tinha mobília já tem a parte maior da nossa história entre as paredes. Mas não faz mal que não possamos celebrar. A data que importa verdadeiramente não esquecer foi o dia em que me mudei de armas e bagagens para a residência fixa do teu peito. Obrigada por nunca me teres cobrado renda.
Normalmente as pessoas esforçam-se para fazer valer as mensalidades que pagam no ginásio e botar lá os cotinhos, porque lá a fidelização obriga a que se pague do início ao fim - salvo morte ou perda de membros essenciais (acho que é mais ou menos isto). Esta que vos escreve vai lá tão pouco, tão pouco (se se lembram, herdei a inscrição da minha irmã) que a senhora da receção propôs-se a baixar-me a mensalidade nos meses que faltam de fidelização...
E como qualquer homem que conhecem isso é o suficiente para se desfazer em gemidos e entregar a alma ao criador. Anda cá por casa a arrastar-se mais ou menos como o aquela miúda do The Ring que sai da TV e esgravata tudo à frente.
Claro que se for para pegar no telemóvel ou jogar um pouco de PlayStation se esquece momentâneamente dos esgares de dor e dos movimentos presos. Ou a tecnologia tem efeito terapêutico ou talvez seja menos grave do que parece. Entretanto se alguém tiver remédios infalíveis que avise.
Ele chamou "gaveta de lixo" à minha gaveta de mémoirs cheia de bilhetes de cinema e concertos, guias de viagens, porta-chaves, chocolatinhos velhos que vieram com o café naquela noite, prendinhas de eventos, blocos de notas escritos e outros coisas que só-eu-sei-porque-são-importantes.