Num dia como outro qualquer.
Ele disse: vamos sair para jantar.
Tínhamos muito que fazer. A casa desarrumada, comida por fazer para os dias seguintes (ao menos pôr qualquer coisa a descongelar?), uma máquina de roupa por estender, assuntos para tratar à secretária, muito trabalho.
Vamos sair para jantar. Assim.
Sem olhar às consequências do que fica para trás, sem fazer contas ao orçamento mensal, sem plano de onde seria o tal jantar.
Sentámo-nos à beira do muro, à beira da praia e ele ficou a olhar para mim como se eu fosse novidade.
Às vezes tenho saudades dos nossos primeiros encontros cheios de formigueiros, em pequenos gestos. Outras vezes não tenho, porque estamos lá outra vez. Estamos a entardecer quentes de sol e de amor e ainda nem sabemos onde vamos jantar. É como há 4 anos e meio: não temos certezas, só vontades.
Dali a pouco o sol vai iluminar o outro lado do mundo enquanto jantamos, dormimos e os dias recomeçam, parecidos uns com os outros. Nós vamos atarefar-nos com as minudências dos dias. E de outra vez qualquer ele dirá o mesmo: vamos fugir.